Uma vez por ano vá a algum lugar onde nunca esteve antes. (Dalai Lama)
Amanda, Nelcino e eu. A partida.
Mais uma aventura incrível com meus companheiros e amigos de mochila: Nelcino Prates e Amanda Arroteia. Desta vez fomos à Bolívia, conhecer de perto o Valle de Tucavaca. Pesquisamos pela internet alguns roteiros que alguns mochileiros fizeram e adaptamos para a nossa aventura. Foram muitas consultas, perguntas e amizades virtuais por aí afora para chegarmos a um consenso. Não curtimos a chamada “trilha de ovelhas”, por isso, fazemos nosso roteiro inspirados em lugares pouco visitados ou desconhecidos.
Foram 2.645 Km, em seis dias de viagem. Resolvemos ir com meu carro percorrendo de Paranavaí, PR (nossa cidade) direto, com pouquíssimas paradas, até Corumbá, MS – mais de 900 Km! Sim, é cansativo, mas sempre fazemos isso nos primeiros mil quilômetros, pois, depois tudo fica mais tranquilo. Se uma cidade ficar a 200 ou 300 Km, corremos o trecho sem problema.
Em Anastácio, MS, para um café.
Paramos em Anastácio, MS para um café e conhecemos o Sr. Wolney, que era de Maringá, PR, aqui pertinho de nosso Município. Muitas coincidências como essa testemunhamos em nosso roteiro.
Em Corumbá atravessamos direto, sem parar na Aduana e sem solicitar a “permiso”, documento que referenda sua estadia na Bolívia, o que foi um erro. Explico mais adiante. A ideia era ir para Águas Calientes, Santiago de Chiquitos, Roboré, Chochis e Santa Cruz de La Sierra.
Em Puerto Quijarro, primeira cidade boliviana, na fronteira, paramos para cambiar nosso dinheiro. Precisávamos de pesos bolivianos, levamos dólares, mas, foram inúteis. Ficamos super desconfiados porque não era uma empresa de câmbio, era uma casa mesmo. Até pedi para ir ao banheiro e o rapaz perguntou se eu queria “baño” eu disse que não, era só xixi mesmo. Depois me dei conta que “cuarto de baño” é banheiro. Primeira gafe em terras estrangeiras superada, partimos bem rápido dali.
Depois de passarmos pela fronteira, fomos direto para Estância Águas Calientes, para um local chamado Los Hervores. Gente, foram mais de 200 Km de estrada sem encontrar absolutamente nada. Nenhum posto, uma barraca vendendo pastel, nada, nada, nada…
Águas Calientes.
Finalmente chegamos. Lá tem um rio com águas quentes, bem bacana. Nas partes rasas é possível ver umas “nascentes de água” que “brotam” da terra. Dá a impressão que tem um vulcão ali embaixo! A gente entra e aquela terra com água quente sobe para todos os locais da sua roupa, pele, bermuda, tudo. Quando você se levanta dali, tem que segurar o shorts, senão ele cai e você fica pelado, de tão pesado de areia quente. É uma sensação indescritível, uma massagem relaxante… Um medo daquilo afundar e você parar o centro da Terra. Em resumo: Uma delícia!
Ao saber que estávamos sem a “permiso”, a dona da pousada sugeriu que não fôssemos para Roboré e muito menos para Santa Cruz de La Sierra, que era melhor voltarmos a Corumbá e pegar o documento e retornar, pois, seríamos como invisíveis no país se algo nos acontecesse, se o carro quebrasse, se precisássemos de um médico. Relatou que a polícia local implica muito com a falta da documentação.
Nós, Paul e a truffi ao fundo.
Resolvemos refazer nosso roteiro, porque voltar a Corumbá para pegar o documento e depois retornar, nem pensar! Alugamos uma “Truffi”, como eles dizem por lá, que é um carro com motorista e tudo. Paul era seu nome. Um sujeito muito simpático e gentil. Nos divertimos muito com ele.
Curiosidade: Vimos um rapaz com a boca que parecia inchada, só de um lado, parecendo o Kiko, do programa Chaves. Depois vimos outro e mais outro. Então percebemos muitas pessoas na cidade daquele jeito. Imaginei que por ali tivesse uma indústria, sei lá, e que as pessoas que nela trabalhassem adquirissem algum tipo de doença. A Amanda comentou que poderia ser uma espécie de câncer. Muito bem. Segunda gafe: Perguntamos ao Paul e ele nos disse que era folha de coca que eles tinha na boca. Sem comentários…
Jose, nosso guia pelo Valle.
Partimos para Santiago de Chiquitos, para o Valle de Tucavaca. Lá, a dona de uma mercearia nos indicou um guia. Aguardamos sua chegada. Jose (leia-se “Rossê”, como ele fez questão de pronunciar), muito solícito e paciente, a simpatia em pessoa. Sugeriu alguns locais e escolhemos El Mirador, Cuevas de Miserendino, Las Cuevas e El Arco.
El Mirador. Um lugar incrível!
Ainda no período da manhã partimos para El Mirador, uma caminhada de um total de quatro horas. Um local incrível, com cerca de mil metros de altura. Bastante vento e uma visão de tirar o fôlego. Dali de cima percebemos nossa pequenez frente ao Universo. O local é conhecido como a antessala do céu. Nome merecido. Na próxima vez voltarei ali com um drone para capturar melhores imagens.
A sopa. 😦
Almoçamos em um local bem simples, barato e com uma comidinha boa. Eles servem uma sopa de milho antes, que ninguém da turma gostou, exceto o Paul e o José, claro, os bolivianos… O restaurante fica em frente à Igreja Jesuíta.
- Cuevas de Miserendino
Depois do rango e já abastecidos partimos para mais uma longa caminhada, foram mais quatro horas até Cuevas de Miserendino e mais quatro para voltar, um local que foi habitado por um homem chamado Juan Miserendino, por volta de 1926. Dizem que ele tinha um tesouro, o qual nunca foi encontrado.
Pinturas rupestres.
O local é lindo, com muitas pinturas rupestres ainda em perfeito estado e, é claro, algumas ressalvas para vandalismos, estupidez humana. Fazendo parte do “kit” dessa caminhada visitamos El Arco e Las Cuevas.
El Arco.
El Arco tem uma beleza ímpar, com um rio bem raso antes de chegarmos, não resisti, tirei a botina e fiquei um pouco naquela água cristalina antes de ficar embaixo do arco, bem rápido, é claro, porque tinha muitos marimbondos.
Dentro da caverna.
Las Cuevas, uma caverna muito bacana, com muitos morcegos também. Foi preciso levar faroletes. Orientados por Jose, compramos em uma mercearia antes de subirmos. Há uns 10 metros para dentro da caverna, há um orifício logo acima, bem alto, a qual, quando tem sol, fica muito iluminada, no entanto, estava um tempo chuvoso. Aliás, quase todo o trajeto foi feito embaixo de chuva (que delícia!), para a aventura ficar ainda mais interessante.
Nosso guia estava com folhas de coca o tempo todo na boca. Dizia que a coca tinha um efeito de “Red Bull” pra ele. De fato, o bicho parece que não se cansava nunca de subir e descer aquela serra.
Estávamos com fome e decidimos não esperar o nosso motorista, o Paul, que teve que voltar para Águas Calientes, pois, tinha que matar um porco para o natal. Seguimos a pé até uma casa que era também uma mercearia. Repeti várias vezes que eu queria BOLACHA, mas a senhora da venda não entendeu e me trazia outras coisas. O guia chegou e disse que eu tinha que pedir GALLETA… A gente pensa que vai entender tudo, que o espanhol é fácil… Que nada! Sofremos para entender o que eles dizem, falam muito rápido. Tem que ter paciência e bom humor.
(Uma coisa gente, os caras lá não bebem café e nem comem feijão… Que saudade de casa!!! Quando cheguei em terras brasileiras, mais precisamente em Ladário, MS, bebi um copo de requeijão até a tampa de café.)
Quando retornamos a Águas Calientes, resolvemos refazer nossa rota, já que não íamos mais a Roboré, Chochis e Santa Cruz. Partimos para Bodoquena, MS. Antes, passamos em Puerto Quijarro para ver a feira, mas, não encontramos nada de interessante, talvez por conta do feriado de natal, poucas barracas e nada atraente.
Dona Edir e Daniel. Figuras.
Já em Bodoquena, uma parada para ir ao banco, encontramos um senhor na rua, Jânio, e perguntamos como achar um restaurante legal e alguém que pudesse nos informar as coisas legais para visitar ali. Partimos para o Hotel e Restaurante Flórida, da dona Edir. Muito simpática e bons preços. Comidinha muito boa. Nos indicou um rapaz, que não era guia, para nos levar a uns lugares legais. Ele nem queria receber, mas, demos um cachê a ele.
Cachoeira Boca da Onça.
Daniel, nosso novo amigo da Serra da Bodoquena, levou-nos para conhecer a Cachoeira Boca da Onça, com 156 metros de altura, localizada no cânion do Rio Salobra. Conhecemos também a Cachoeira Escondida, que foi descoberta somente há dois anos. Tem que ir por uma trilha que atravessa um rio bem seco. A própria cachoeira quase não tem muita água, mas, não deixa de ser interessante.
Vista lá de cima da Cachoeira Escondida. Pensem num trampo pra subir até aqui…
Tem algumas escadas improvisadas, com cordas e tudo, para subir.
Uma delícia flutuar aqui.
Fizemos flutuação em um rio com águas muito claras e muitos peixes. Todos esses passeios foram grátis, porque de graça é mais gostoso!
Miguel, nosso novo amigo.
No outro dia pela manhã, encontramos Miguel, um mochileiro de São Paulo, que trabalha com Food Truck de sorvete. Ele pediu carona até Bonito, MS. A gente faz muita amizade nessas viagens, gostamos de conversar bastante e saber de tudo um pouco. Deixamos o Miguel em Bonito e partimos para Bela Vista, MS, porque queríamos comer uma picanha em um restaurante bem legal que tem lá, mas, estava fechado. Então almoçamos em outro, onde conhecemos o Sr. Antônio, que nasceu em Tamboara, PR, pertinho de Paranavaí, nossa Cidade Poesia.
Seguimos rumo ao Paraguay, para Pedro Juan Caballero, onde compramos bebidas, aproveitando nossos dólares que não foram utilizados na Bolívia.
O santo cafezinho na “Primavera”.
Partimos então para Fátima do Sul, MS, onde pernoitamos. No outro dia pela manhã pegamos a estrada e, é claro, teve aquela parada básica em Nova Andradina, MS, para aquele café gostoso na Panificadora Primavera. Já em Batayporã, MS, perguntamos se a balsa estava passando, pois, queríamos ir pelo Porto São José, um trecho de 65 Km de estrada de chão. Partimos pela estradinha e dirigimos 6 Km quando um caminhão deu sinal de luz. Paramos e o motorista disse para voltarmos, pois, as pontes estavam todas intransitáveis que o nosso carro não passaria. Agradecemos e retornamos, fazendo o trajeto por Rosana, SP.
A chegada. Tudo nos conformes.
Chegamos em casa (Paranavaí, PR) dois dias antes do previsto por conta da falta da “permiso” e não termos ido até Roboré e Santa Cruz, no entanto, valeu a pena, pois, na mudança de roteiro também nos divertimos muito.
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Até a próxima…
Toda vez que eu volto, eu estou partindo. (Mongol e Osvaldo Montenegro)